Quem me conhece mesmo sabe: a maior das minhas paixões foi sempre atuar. É nesse dom que eu me reconheço, me reconstruo e me permito viver o outro. O faz de conta já era meu terreno desde criança. Na adolescência iniciei as práticas com o teatro e até hoje esse contato com a arte é que me desafia a olhar tudo a minha volta, buscando algo que às vezes, ninguém percebe. E essa magia de dar o seu olhar, compartilhando com o outro, é um dos papéis do cinema. Em 2013 tive a oportunidade de morar fora do país para estudar e enquanto me dedicava em uma especialização em criação de conteúdo, fazia aulas de interpretação para cinema e tv. Contava as horas pra ir praticar os jogos de interpretação e mais feliz ainda ficava quando me chamavam pra atuar em uns curtas dos demais alunos. Assim, consegui experimentar um pouco mais dessa arte. Voltando pro Brasil, uma amiga de faculdade, que havia se mudado pra São Paulo, justamente para estudar cinema, queria rodar seu primeiro curta. Ela não queria rodar lá em SP. Queria mesmo era gravar com a gente, no calor gostoso de Porto Velho. E nos apresentou o roteiro do  “Que Assim Seja”. Um tema áspero: crime e religião. Meu personagem vivia uma dualidade entre o bem e o mal. Entre o certo e o errado. Entre a sociedade e a margem dela. Um criminoso, na linha tênue entre o arrependimento e o descontrole. Um ser humano, pois.

 

 

 

 

 

Um prato cheio pra um ator, que começando ali, estava com sangue nas veias para dar o melhor de si. Aliás, todos da equipe estávamos debutando de alguma maneira. Era meu primeiro protagonista em um filme, com um perfil psicológico mais complexo. Os amigos se uniram para formar um set de gravação e deu certo. Meu primeiro desafio era pintar o cabelo de loiro. Depois, aprender a atirar, usando um revólver de verdade (eu poderia ter dito isso?).

 

 

 

 

 

Muita conversa com Érica Pascoal, a roteirista e diretora, alguns ensaios e bora pro set. Já na primeira cena, o clima pedia emoção, choro, uma concentração absurda. Nem nós sabíamos exatamente como fazer, mas minhas lágrimas brotavam, o silêncio no set era total, atenção redobrada… e conseguimos! Confiar na equipe é algo essencial, viu?

 

 

 

 

 

 

Fizemos todo o trabalho de gravações em dois dias. Gravamos dentro de um ônibus de linha mesmo, na periferia da cidade. E o mais curioso nessa cena, é que meu personagem tinha cicatrizes pelo corpo. Esse trabalho minucioso foi do parceiro Maike, que com toda a paciência do mundo, tinha de retocar minhas marcas, a cada 5 minutos, num ônibus em movimento, quente, e comigo transpirando igual tampa de chaleira.

 

 

E o resultado de tudo isso? Pra mim, um filme bem difícil de se fazer e bem questionador. Érica estava reticente se levaria a frente ou não, mas o tempo mostrou a ela que sim. Estreamos em outubro de 2017, no Festival Latino-Americano de Cinema Ambiental CINEAMAZÔNIA, onde recebemos o Troféu Mapinguari de Melhor Produção Rondoniense 2017.

 

 

 

 

 

O filme está rodando outros festivais também. Exibimos em Barcelona, em janeiro agora, no festival “La Mida no Importa” e temos outra sessão na Itália, em Cefalú, região de Palermo, com data a confirmar.

Sigamos lutando pela arte que a gente acredita. Que assim seja!