Capital europeia destruída pela guerra. Pelas guerras. Vida e morte em uma linha sem definição. Mesmo depois da cidade ter sido reconstruída, as marcas resistem até hoje e evidenciam características do povo alemão: diplomacia, elegância e a maneira sentimental de contar sua história. Os monumentos são de arrepiar. O memorial em homenagem aos judeus mortos pela guerra denota uma sensação de dor, vazio… culpa. São mais de dois mil blocos de concreto em um labirinto de várias alturas. Uns que podemos passar por cima, outros nem que quiséssemos atravessar seus quatro metros.
Outro ponto sensivelmente dramático é Bebelplatz, uma praça onde, em 1933, foram queimados 20 mil livros, que segundo os nazistas, ameaçavam a filosofia hitleriana. Hoje há um marco referente ao episódio, não com estátuas, nem placas simplesmente alusivas. O segredo está no chão. No local da fogueira, há uma plataforma de acrílico. Através dela se vê uma prateleira branca, vazia. Em outro ponto da praça, lemos a frase “Onde se queimam livros, acaba-se queimando pessoas.” Mais uma vez uma lacuna me toma. Me esvazia. Do outro lado da rua há outro memorial em homenagem às vítimas das guerras e tirania. A artista plástica alemã Kathe Kollwitz, que perdeu seu filho na primeira guerra e, na segunda, o marido e outro filho, criou a escultura de um homem morto nos braços de sua mãe. A obra em si carrega um peso enorme. Agora imagine essa obra, mesmo dentro do memorial, exposta aos efeitos do tempo. Sol, chuva, vento, frio, calor, neve… No teto do museu há um buraco, exatamente para deixar a peça assim, exposta, como se fosse uma ferida aberta… Exposta aos efeitos do tempo… E não seria assim a vida?
Ah Berlim! Suas analogias doem…